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#32 - Algumas coisas que aprendi em dez anos de carreira (e alguns lançamentos para ficar de olho!)

Em que reflito sobre dez anos de carreira, indico livros, limpo a casa e indico One Piece.


Todo mês desde que vim pro Beehiiv, tenho um grande influxo de assinantes a cada edição enviada. Então sejam bem-vindes!

Para quem é novo por aqui, mando a newsletter uma vez por mês. A data anda meio aleatória, mas pode ter certeza que vou aparecer na sua caixa de entrada não mais que duas vezes por mês. Os temas aqui também são aleatórios – mas te garanto que sempre vai ter alguma recomendação bacana ou algum comentário sobre o que estou trabalhando e/ou sobre escrever.

Nessa Newsletter, temos:

  • Assim se passaram dez anos…: Uma reflexão dos meus dez anos de carreira;

  • Lançamentos recentes para ficar de olho;

  • Me siga lá no Tapas + Atualizações

  • Apurado do mês

Vem comigo!

Imagem com quatro capas: A Ilha dos Dissidentes e Amea'ça Invis'ível, publicadas como B'árbara Morais; e Tratado sobre tempestades e Estudo sobre amor, lan'çado amo Isabelle morais

As capas novas da trilogia anômalos são tudo pra mim.

Assim se passaram dez anos…

Nas últimas semanas, tenho me dividido entre trabalhar (em freelas e na minha tese), resolver burocracias e encaixotar/doar/vender minha casa inteira. Para quem não leu a newsletter passada, eu passei em um edital para fazer um período de doutorado sanduíche no exterior e viajo no início de outubro. Essa é a quarta vez em cinco anos que preciso fazer isso – as mais radicais sendo a mudança de Brasília para Curitiba e essa. Em todas elas, é um processo de relembrar e ponderar a respeito da minha vida, das minhas memórias, de tudo.

Dessa vez, esse processo está se sobrepondo à Bienal do Livro do Rio de Janeiro, exatamente dez anos depois do lançamento de meu primeiro livro com o meu outro nome de autora, A Ilha dos Dissidentes, e dois anos do lançamento de Tratado sobre Tempestades com este pseudônimo, então me vejo pensando muito sobre ser escritora. Sobre as duas experiências, de ser publicada tradicionalmente e de forma independente; de precisar desesperadamente ir para um evento de livro para vender e ser conhecida e o que faço agora, que é ficar no meu canto, fazendo o que gosto e o que estou confortável em fazer.

Existem algumas crenças que ficam enraizadas na gente e mesmo anos depois, não conseguimos saber se foi algo que alguém nos contou ou se foi algo que deduzimos por observação. É um exercício fútil separar os dois, mas por anos carreguei uma: a Bienal do Livro, tanto a de RJ quanto a de SP, é essencial para a carreira de um escritor. Você precisa estar lá todos os dias, mostrar "serviço", vender seu livro, falar com leitores, fazer networking; ser convidado para a programação oficial é um grande marco na carreira. Eu cheguei a tirar férias para ir para a Bienal de SP todos os dias, ganhando uma tendinite no pé; toda Bienal eu saia doente; toda bienal eu gastava um dinheirão achando que isso era investir na minha carreira. Em algum momento da última década, comecei a sentir que não era tão mais bem-vinda assim no estande da editora por vários motivos e diminuí meu ritmo, mas continuei indo.

Daí tivemos a pandemia. O tempo para pensar e refletir, para aceitar que o que eu achava que era cuspir no prato que eu comia não era bem isso, de tomar decisões difíceis. E assim como quando eu parei de comer glúten e descobri que tinha dor de cabeça o tempo todo porque ela finalmente parou de existir, quando descobri que não era normal aquilo que eu sentia e eu não sabia daquilo porque não conhecia outra realidade, percebi o quanto eu ficava tensa e me fazia mal ter essa exigência de TER QUE ir para a Bienal (e outras feiras!).

Hoje vejo as fotos e as coisas das pessoas na Bienal e só consigo sentir um alívio profundo de não estar ali. Cada imagem me traz o mesmo sentimento horroroso que sentia o tempo todo, e agora que sei como é não sentir isso, não quero nem chegar perto. Mas ainda assim, ainda de longe, eu vejo umas coisas que não mudaram nesses dez anos, a forma absurda como algumas editoras tratam os autores, o desrespeito inerente de todo o mercado com os autores e fico querendo ir pra rua queimar carros como os franceses. Acho que quem é publicado por editora tradicional não fala muito dos problemas publicamente porque, bem, é uma situação complicada. Tem alguns donos de editora por aí que amam ameaçar de processinho, essas coisas. Mas se tem algo que aprendi nesses dez anos de carreira, é que todas as editoras tradicionais tem um problema. Todas, dos maiores grupos editoriais aos menores.

A gente começa com a remuneração: hoje em dia, você consegue o tradicional 10% do preço de capa com alguma sorte, porque as editoras andam tentando emplacar 8%. Daí tem o fato de que nenhuma editora gosta de vender livro, né, então arrumam empecilhos para isso. Seja em distribuição, seja na produção do livro, seja em marketing, seja não mandar seus livros para a Bienal ou não deixar que você ajude a vender, cada uma tem um sabor de dor de cabeça e problema diferente. E quero só deixar o aviso de que isso não é culpa de nenhum profissional em específico. No processo, a maioria dos funcionários das editoras tenta ajudar e facilitar o máximo possível a sua vida, mas ele tem quase tanta força quanto você ali, e se tiver um que não trabalhe direito, um problema de comunicação que for, uma mudança de equipe, o processo vai pra casa do caralho. No final, é uma montanha russa que só vale a pena pelos leitores, porque nem o dinheiro nem o processo são tão bons assim.

E foi justamente por ter raiva disso tudo, por ter amigos em todas as maiores editoras do Brasil, cada um com seu probleminha, que eu percebi que não quero me sujeitar a isso, pelo menos não no momento ou nos próximos anos. Esse foi um processo difícil de aceitar, porque tenho o sonho de muitos que escrevem e parecia que era uma injustiça com essas pessoas; achei que deveria querer o que todo mundo quer, mas entendi que nem tudo é para todo mundo.

Só que não escrever não é uma opção para mim. Tenho mil ideias, me divirto desenvolvendo elas, me divirto escrevendo. Acima de tudo, faço isso porque gosto, para me agradar. Não preciso ter um milhão de leitores ou de vendas, só preciso de uma dúzia de pessoas que sei que vão gostar da história para compartilhar as coisas. Considerando isso, o caminho para ter um braço da carreira que lança de forma independente pareceu natural, e é assim que vim parar aqui, escrevendo essa newsletter para você.

E é engraçado, porque eu comecei a dedicar os esforços de divulgação para as obras de Isabelle, de forma casual e tudo o mais porque não tenho muito tempo, mas o semestre passado foi o que recebi a maior quantidade de dinheiro das minhas publicações tradicionais nos últimos dez anos, com um número expressivo de vendas, fazendo pouquíssimos posts em redes sociais e em lugares que meu público alvo com aquele pseudônimo, que são pré-adolescentes e adolescentes, não necessariamente está. A gente bateu mais de vinte mil exemplares vendidos com a Trilogia Anômalos com esse, e fico muito, muito feliz em como a história continua relevante até hoje. As capas novas tem ajudado muito a chegar melhor no novo público alvo e fico bem feliz.

Da mesma forma, eu bati todas as minhas metas de venda para o primeiro ano das obras que lancei. O Horror da Fazenda São Lázaro vendeu três vezes mais do que eu tinha previsto e está quase se pagando; Tratado até agora está bem perto de vender o dobro, com a prestação de contas de junho! Lá no Tapas, Estudo sobre amor está indo super bem também. Eu fico muito feliz com a quantidade de pessoas que se interessam nessa história que por muitos anos achei que ninguém ia querer ler e a quantidade de pessoas que ficam completamente obcecadas pelos protagonistas como eu estou. No final, é isso que me deixa mais feliz e satisfeita.

É para isso que eu escrevo.

Acho que cheguei num ponto da carreira que finalmente tenho algumas certezas e me conheço como autora para saber identificar o que eu quero, o que é suficiente para mim, o que me deixa feliz. E como escrever não é minha carreira principal, posso me dar ao luxo de fazer as coisas por hobby e experimentar, mostrando possibilidades e abrindo caminho para que outras pessoas possam seguir por ele e florescer bem mais do que eu (como foi o caso de Pétalas de Akayama, que tenho orgulho pra caralho e que tá em pré-venda no físico pela editora New Pop!!!).

Em todo esse tempo de carreira, acho que a maior lição que tirei (e que já comentei aqui algumas vezes) é que não tem certo ou errado quando se trata de ser escritor, existe o que funciona para você. E quando você descobre esse ponto, as coisas fluem que é uma beleza!

Lançamentos recentes para ficar de olho:

Se tem algo que gosto da época da Bienal é a quantidade de lançamentos super legais das editoras! Por isso, para voltar para a editoria recomendações/curadoria, separei alguns livros que lançaram nos últimos meses de forma tradicional que acho que podem interessar para vocês, porque me interessam bastante. Tem muitos amigos na lista, ainda bem!!

  • Visão Noturna, Franklin Texeira: O Franklin chama esse projeto de Scooby Gay, e é basicamente isso: horror protagonizado por youtubers de mistério, em que o maior medo são os sentimentos que sentem. Estou muito empolgada para ler porque amo, amo esse tipo de premissa (e sinto que sozinhos meus amigos estão lançando uma nova trend literária, porque Os Fantasmas Entre Nós, da Gih Alves, que vai sair pela Seguinte pode ser resumido a isso e tem mais um que sai ano que vem por editora grande que também é essa vibe). Saiu agora no início de Setembro pela intrínseca.

  • Mestre dos Djinns, P.Djeli Clark: Esse daqui eu morro de vontade de ler desde que saiu na gringa e tô muito feliz que esteja saindo aqui! É fantasia steampunk passada no Egito e é sáfica, e parece muito muito legal e diferente do que normalmente é lançado por aqui.

  • As garotas de Grimrose, Laura Pohl: Finalmente a autora best-seller do NYT Laura Pohl sai em português! A Laura é brasileira, mora no Brasil, e é a preparadora de todos os meus livros, e As garotas de Grimrose é uma releitura YA bem legal de contos de fadas, com assassinatos misteriosos, sáficas com espadas e pessoas arromânticas completamente sem juízo!

  • Mariposa Vermelha, de Fernanda Castro: A escrita da Fernanda é incrível e amo demais tudo que ela escreve, então tenho certeza que Mariposa Vermelha vai mudar minha vida. Além disso, é uma história de fantasia com um romance com um demônio, então impossível ser ruim! (Além disso, a Fernanda é um amor e tem três porquinhas da índia lindas, a Dilma, a Janja e a Tebet, e vive postando sobre elas nos stories e recomendo muito seguir ela ahaha).

  • Operação Paddock, Arquelana: Eu fiquei muito interessada na premissa desse aqui mesmo sem gostar nada de Formula 1 e corridas de carro! A premissa é na vibe de Hanakimi e Ela é o cara - a protagonista finge ser o irmão para poder competir em uma categoria de corrida aí e acaba se envolvendo com outro piloto, e eu amo, amo, amo histórias assim (Hanakimi é um dos meus mangás favoritos!). Fico muito feliz de ver a Paralela investindo em romances brasileiros e espero que esse seja o primeiro de muitos livros da Arquelana com a editora!

  • Astrid Parker nunca falha, Ashley Herring Blake: O segundo e último gringo da lista, é a continuação de Delilah Green não está nem aí. Eu amei demais Delilah, um romance sáfico que claramente é escrito por alguém que conhece o gênero muito bem, e estou ansiosa para ler a história da Astrid, que é super certinha e parece 100% afundada na heterossexualidade compulsória, kkk.

Acho que é isso! Eu às vezes sinto que o pessoal dá muito mais destaque para alguns poucos livros independentes que ganham certo hype e acham que quando a pessoa chega em uma editora tradicional, já está com a vida ganha, mas é importante também apoiar quem está nelas e lê-los! Nunca se sabe quando uma editora vai decidir que você não vendeu o suficiente e só sabotar completamente seu livro.

Me siga lá no Tapas + Atualizações

Mais um mês sem o extra que era para Abril, mas se tudo der certo, é o último mês! Nesse meio tempo, fiquei pensando um pouco em algumas estratégias e decidi que irei enviar o extra As muitas perguntas de Aleksey por aqui apenas para quem assina a newsletter, disponibilizando-o para a web no Tapas.

Para quem não conhece, o Tapas é um aplicativo para webtoons e webnovels e ele permite que os criadores disponibilizem suas histórias gratuitamente mas recebam algum dinheiro a partir de algumas quantidades de seguidores/inscritos. Com 100, consigo monetizar com anúncios. Com 250, posso receber doações de inks, que é a moeda do Tapas, e que pode ser convertida em dinheiro. Dá para ganhar ink de graça no app, então fica bem tranquilo para quem quiser apoiar sem precisar gastar! Além disso, como leitora, gosto muito do aplicativo e da plataforma e agora tem se formado uma comunidade bem interessante de brasileiros por lá. Também é uma forma de vocês conseguirem comentar e conversar com outras pessoas sobre a obra.

Enfim, por isso venho pedir para vocês que se puderem, me sigam lá. Meu objetivo é usar o dinheiro que conseguir do Tapas inteiramente para encomendar ilustrações e fazer outras coisas relacionadas às minhas obras, tipo cards para quem acompanha e coisas assim. Os demais extras também serão lançados por lá depois de serem enviados por aqui.

Falando neles, a votação ainda está acontecendo lá no Kaleidocosmik. Depois de entrar, é só ir no Votação dos Extras e selecionar qual das histórias você prefere. O pessoal está se divertindo muito em deixar as coisas empatadas para eu fazer mais de um (e dá para votar em mais de um kkkk), e eu prometi que se empatar de fato farei isso. Então fica aí o incentivo para vocês que se divertem perturbando o juízo dos outros, ahaha.

Além disso, no dia 08/09 (o dia que envio essa newsletter!) vamos fazer um eventinho lá no Kaleido para quem não está na Bienal! Vai ser por voz e mais para a gente jogar uma conversa fora. As chamadas lá sempre são bem divertidas, então espero vê-los por lá!

No campo da escrita, apesar de estar atolada de coisa para fazer e sem tempo para absolutamente NADA, meu cérebro decidiu que finalmente era a hora de Encantamento andar e tenho escrito nos tempos que sobram para testar a voz. Acho que estou chegando numa estrutura e perto de encontrar o tom certo para a história, mas por enquanto, só nesses testes. Minha maior complicação é achar o início da história, e depois que encontrar, sei que vai fluir muito bem. Vai ser uma grande reviravolta se eu conseguir escrever ele enquanto estou lá fora, doida com a minha tese, mas conhecendo meu cérebro é provavelmente isso que vai acontecer.

Ah, eu também reformulei meu site (obrigada, Denys pelo ótimo trabalho!) e agora vocês podem voltar a ver os avisos de conteúdo de cada obra, bem como algumas tags e recomendações de outras obras.

One Piece resetou meu cérebro

Apurado do mês:

  • Eu vi o Live Action de One Piece e estou completamente obcecada. Não acho que vou ver o anime ou ler o mangá porque não tenho tempo nem paciência, mas recomendo bastante para quem nunca teve contato nem nada! É uma história muito divertida sobre amizade e em que todo mundo é muito gostoso e charmoso, então é bom em todos os aspectos.

  • Eu li o Romancing the Beat, da Gwen Hayes, um livrinho sobre a estrutura de Romance e os pontos narrativos relevantes. É bem legal porque é um recurso específico do gênero, que tem uma construção narrativa, convenções e clichês diferentes de outros gêneros. Assim como na fantasia a gente tem vários clichês e convenções narrativas (e, relacionado a isso, comecei a reler o Tough guide to Fantasyland da Diana Wynne Jones que é maravilhoso), o Romance também é um gênero com suas especificidades e nem todo mundo entende isso. Recomendo bem esse aqui para quem não é muito familiarizado ou quem nunca pensou muito na estrutura de romances! Para quem tem mais experiência no gênero não agrega muito, mas é um bom recurso para conhecer os pontos importantes e entender como dá para brincar com eles.

  • Também terminei de ler Our Wives Under the Sea, da Julia Armfield, história de horror sáfico sobre uma esposa que vai para uma expedição submarina e volta mudada. Eu gostei demais de como ele explora o relacionamento das duas e o luto de perder alguém mesmo a pessoa estando sentada ao seu lado. É um livro muito introspectivo e com um enredo bem simples e direto, centrado no relacionamento entre as protagonistas e usando a metáfora do monstro para isso.

  • Aproveitando o gancho, a Gih Alves tem uma newsletter sobre horror e o último texto dela, sobre Horror Queer está excelente!

Ufa! Acho que por hoje já chega, né? Espero que ainda esse mês eu apareça aqui com as mais de 15 mil palavras do Ivan, da Morena e do Aleksey se [censurado] e [censurado] e [censurado].

Onde encontrar meus livros

Veja os avisos de conteúdo em meu site.

Leia os extras gratuitamente no Tapas.

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