#28 - Fevereiro: Reencarnei como a vilã...!?

Sobre Isekai, receitas de bolo e outras fórmulas

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Na newsletter de hoje, teremos:

  • Sobre isekais, receitas de bolo e outras fórmulas;

  • Uma atualização do que estou trabalhando atualmente e uma pergunta para VOCÊ!

  • O apurado do mês.

Parte da capa de O único destino dos vilões é a morte, mostrando a protagonista, Penelope, uma moça com os cabelos rosas, enfeitada por flores.

Isekais, receitas de bolo e outras fórmulas

Nesse mês, li o primeiro volume da webtoon O Único destino dos vilões é a Morte, um isekai que conta a história de uma menina coreana que morre e reencarna como a vilã de uma visual novel de celular e precisa planejar cuidadosamente o que vai fazer para não morrer – tendo que navegar cenários parecidos até demais com a vida que ela lutou para fugir antes de reencarnar. Se a premissa geral lhe parece familiar, é porque é mesmo: acho que 9 a cada 10 webtoons de fantasia voltadas para o público feminino hoje em dia tem uma premissa semelhante. A menina morre e reencarna como a vilã, ou uma coadjuvante, ou uma personagem secundária que só é citada uma vez… e acabam transformando a história completamente.

São isekais – com o perdão de usar o termo japonês aqui, apesar do grosso das webtoons serem coreanas –, histórias que se passam em um mundo além do nosso e que são talvez o gênero mais popular de fantasia no leste asiático atualmente. Tem duas categorias principais: as que a gente consideraria como fantasias de portal, aqui no ocidente, em que uma personagem acaba indo parar em outro mundo acidentalmente (em geral através de coisas com água, como poças, lagos, poços…)(ANATOLIA STORY É A MAIOR E MELHOR) e as de transmigração, em que a protagonista reencarna em outro mundo. Hoje em dia, parece que as mais famosas são as do segundo tipo, e você encontra aos montes, tanto nas mídias voltadas para o público feminino quanto as voltadas para o público masculino. E a cada premissa nova de isekai que encontro, a cada nova história que leio e me encanto, fico fascinada com a capacidade de explorar e de inovar em uma fórmula que a princípio parece gasta e feita à exaustão.

Há certa obsessão em ser original, único, inigualável na cultura ocidental, com o adjetivo "formulaico" sendo relativo a algo negativo. A gente considera seguir padrões e clichês algo ruim, pejorativo, como se fosse possível fazer algo do zero, completamente original. Eu sempre questiono isso, mas depois de ler O único destino dos vilões… e então Trophy Husband, junto com uma thread muito interessante de autore S. Qiuyi Lu, consegui organizar meus pensamentos a respeito disso tudo em uma metáfora que funciona melhor: não é fórmula, é receita.

Gosto muito de usar metáforas de cozinha para escrita (e já fiz antes por aqui) e acho que funciona muito bem por serem duas atividades muito semelhantes. Ambas precisam de paciência e de treino, de observação e teste, de saber como os ingredientes podem ser combinados para chegar ao resultado que se gosta. Mas pratos específicos tem ingredientes específicos ou exigem técnicas específicas: estrogonofe sempre vai ter extrato de tomate e creme de algum leite, servido com batata palha; churrasco sempre vai envolver algum tipo de grelha ou defumação; um omelete sempre vai ter ovo batido até virar uma "massa" uniforme. Como pessoa com uma restrição alimentar, eu sei muito bem como é horrível quando te prometem que vai ser um pão sem glúten e você come e parece um bolo, que são duas coisas diferentes em textura, embora possam ter receitas semelhantes. É muito frustrante pegar um brigadeiro de biomassa de banana e ele não parecer em nada um brigadeiro. Por outro lado, é surpreendente pegar uma coxinha de jaca sem glúten e ela parecer uma coxinha de frango com glúten, quase um pequeno milagre nas suas papilas gustativas.

Temos aqui, então, duas dimensões: a receita em si e o sabor e textura dela. Você pode seguir a receita à risca e não necessariamente atingir o sabor que queria por ter errado um detalhezinho no processo ou não ter experiência para fazer ela funcionar; você pode fazer uma receita toda louca e conseguir exatamente o que queria com o sabor. E acho que o mesmo se aplica a histórias – cada um desses isekai segue a mesma receita básica, nos entregando as bases do que esperamos do gênero, ao mesmo tempo em que mudam um ou outro ingrediente, dão um tempero diferente, assam em vez de fritar e transformam a receita em algo muito mais saboroso, mas que ainda é reconhecível como algo do gênero. Assim, mesmo partindo da mesma base, as histórias parecem novas e é sempre divertido descobrir qual vai ser a inovação que vai acontecer dessa vez. Nem sempre você gosta da combinação, mas dá a sensação de ser sempre algo novo, embora familiar.

Isso é comum em inúmeros gêneros literários (principalmente em Romance e Thriller, embora só um deles receba as críticas mais pesadas de ser formulaico e clichê) e na minha opinião, o que cabe ao escritor é conhecer a maior quantidade possível de ingredientes e receitas para poder fazer sua própria versão das coisas. Quanto mais ingredientes e mais receitas você conhece, mais habilidoso você fica em saber o que substituir e o que vai combinar com o quê. Por isso é tão importante ler de tudo e aumentar seu repertório, por isso é tão comum que iniciantes façam obras tão parecidas com coisas que fazem sucesso e já existem.

Outro aspecto que eu acho muito legal de isekai é como são histórias metalinguisticas. Não só ele tem sua própria receita, como ele pega a receita dos outros para poder bagunçar, subvertendo clichês, brincando com convenções, virando de cabeça para baixo outra história que tem batidas e ritmos que são muito conhecidos para o público que os consome. Mas mesmo sem conhecer, ainda é divertido acompanhar porque ele te guia sobre o que a obra original era e o que ela se torna, o próprio choque das protagonistas revelando para nós o que está sendo virado de cabeça para baixo. É um dos meus pratos favoritos dos últimos tempos, sempre servindo diversão e gargalhadas.

Para ilustrar o que estou falando, recomendo muito O único destino dos Vilões é a morte e Scumbag Villain's Self-saving system, que são isekais muito semelhantes na receita, mas que não podiam ser mais diferentes entre si na execução. Se você já leu/viu/assistiu os dois, me fala o que você achou!!

Capa de Beware the villainess!

Reencarnei como a vilã…!?

Estudo sobre Amor entrou no mês final (aleluia!!) e por alguns erros de cálculo, estou 100% em modo maratona frenética para fazer as coisas estarem prontas a tempo. Mas ao mesmo tempo, tenho explorado ideias e visto o que parece estar mais pronto para ser desenvolvido e… há um motivo pelo qual isekais e receitas estão na minha mente.

Tenho uma ideia de um isekai que já tem até nome (e talvez eu faça uma LOUCURA e já encomende uma capa, porque eu não tenho limites) que parece que tomou as rédeas. Eu pensei "ah, não vou falar nada", mas literalmente acabei de falar que as premissas são todas iguais, então nesse aqui a protagonista é viciada em uma série de YA de fantasia que o final foi uma MERDA e o vilão se fodeu e ela acaba reencarnando no início da história como… a namorada do vilão! A namorada do vilão que é abandonada por ele quando ele tenta ficar com a protagonista e acaba de uma forma ainda mais PATÉTICA do que a morte. Nossa protagonista, é claro, está DETERMINADA a corrigir a lambança do final da série e além de se salvar, ainda salvar o vilão! Ou seja: teremos muita confusão! Gritaria! Villainfuckers felizes por toda a parte!

A questão atual é que essa ideia nasceu com o intuito de ser interativa. Nada melhor do que elevar a natureza metalinguística do gênero deixando que algumas escolhas sejam tomadas pelos leitores, não é mesmo? Inclusive tenho todo o plano de como fazer para a história funcionar com essas escolhas, mas não sei onde seria a melhor plataforma (talvez o tumblr, agora que tem enquete?) nem qual o melhor cronograma (eu, afinal, estou trabalhando em minha tese). Eu já descartei o twitter, que tinha sido minha ideia inicial, não só porque ele está cada vez mais insalubre, mas porque a história vai exigir capítulos longos e vai ter hot, é óbvio. Também é trisal, e, na minha experiência, trisal sempre exige MUITAS palavras para ser bem desenvolvido.

De qualquer forma, mesmo que não saia como algo interativo, tenho planos de continuar publicando histórias como "novel", primeiramente de forma gratuita e posteriormente vendendo o e-book para quem preferir, conforme achar que encaixa no projeto. OVEM, como chamo esse projeto, com certeza vai sair assim (mas talvez só em 2024 ou 2025! Trabalhamos com longo prazo aqui kkkk).

Enfim, eu aceito sugestões de como fazer funcionar essa história de forma interativa. É só responder esse email ou me mandar mensagem lá no twitter com a sugestão!

Apurado do mês

  • Queria começar só falando que sou maluca e indiquei Até os ossos em duas edições diferentes, acho que é SINAL para assistirem se não assistiram ainda.

  • Esse mês tivemos a Colônia de Férias do 708 e vimos vários filmes de terror lançados nos últimos anos e quase todos foram muito bons. Alguns foram bons porque a discussão a respeito dos temas foi muito interessante e a gente viu enquanto refletia sobre os temas tratados:

    •  Ready or not foi divertido, mas me deixou frustrada no nível de me dar uma ideia de história NOVA para corrigir o que não gostei no enredo;

    • Fostei muito de X e dos temas que usa para fazer horror, e achei que tem uma pegada clássica de slasher e estou ansiosa para ver Pearl;

    • Se The Barbarian tivesse terminado na primeira meia hora já teria sido um dos melhores filmes de terror dos últimos tempos do tanto que me deixou TENSA, e no restante do filme desenvolve temas muito interessantes que me deram toda a sorte de sentimentos – a tensão virou raiva, que virou tristeza, que virou gritos de DEIXA DE SER BURRA!!!! Enfim, é um excelente filme sobre cultura de estupro, como bem notou meu amigo;

    • The Menu foi um que assisti sozinha, depois de recomendações da Sofia Soter e do Gogun, e gostei muito de como tudo é construído e a forma que lida com o tema principal. Recomendo todos e todos estão disponíveis ou na Star+, na HBO ou na Prime Video.

  • Para quem gosta de história de romance paranormal com vampiros, a Thais Lopes acabou de lançar Corte do Desejo, o segundo livro da série Corte do Sangue dela que o pessoal tem amado MUITO. Eu estou muito atrasada em absolutamente todas as leituras e não consegui ler nem o primeiro ainda, mas sei que tem muita gente que acompanha essa newsletter que vai gostar do que ela escreve.

  • Para os monsterfuckers e hereges de plantão, encontrei outro continho erótico com monstro, dessa vez com um padre vampiro: Purificai, de Forlly. É uma trilogia em que cada livro é com um par de protagonistas, e a segunda história sai por agora. Também não li ainda, mas é sempre divertido ver mais gente brincando com esses temas em português!

  • Lesson in thorns, da Sierra Simone, está de graça! Eu amo, amo, amo esse livro. É uma história gótica e erótica de seis amigos, uma casa antiga com segredos, rituais mágicos, muito kink e a MELHOR cena de spanking que já li na vida. Esse livro é mais leve que o resto da série, que tem temas bem mais pesados, além de ter incesto, assassinato, etc, então se forem ler, já tenham esse aviso em mente. Eu atualmente estou na metade do segundo e amando. Eu adoro como a Sierra escreve angst e trisais e talvez, só talvez, ela seja uma grande referência para mim.

  • Lembrete que no fim de março vamos ter a votação do tema do primeiro extra desse ano lá no canal do Telegram e, além disso, todas as vezes que posto lá saem indicações MUITO legais de quem acompanha o canal nos comentários!

Acho que por hoje é só! Uma edição mais curtinha, como o mês, mas com a correria que está por aqui não consigo fazer nada mais elaborado. Nos vemos mês que vem!

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