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#19 - Junho: Posicionamento de mercado para escritores + Um estudo de personagem do Ivan

Algum dia vou dominar a arte de escrever bons títulos, mas enfim. Nessa newsletter temos: Alguns pensamentos sobre posicionamento e planejamento de carreira para escritores baseado no Romance your Brand, da Zoe York; Extra: bastidores do desenvolvimento do Ivan e um dos estudos de personagem que fiz dele (e da Morena!);

Algum dia vou dominar a arte de escrever bons títulos, mas enfim. Nessa newsletter temos:

  • Alguns pensamentos sobre posicionamento e planejamento de carreira para escritores baseado no Romance your Brand, da Zoe York;

  • Extra: bastidores do desenvolvimento do Ivan e um dos estudos de personagem que fiz dele (e da Morena!);

  • Destaques do mês/Recomendações.

Lembrete: Ao comprar na Amazon com qualquer link dessa newsletter, recebo comissão de venda e você me ajuda a continuar meu trabalho!

Pensamentos sobre posicionamento de mercado como escritor

Esse mês, acabei lendo o livro Romance your brand, da Zoe York. Já tinha visto muitas autoras de romance indie dos EUA que sigo comentando a respeito dele e fiquei curiosa, mas já fui com um pé atrás esperando muitas coisas que eu não concordo. Em geral detesto livros e dicas de escrita que são reducionistas, que indicam que tem SÓ UMA FORMA de fazer as coisas, que só aquilo é o caminho para o sucesso. Porém fiquei bem surpresa em ver que o livro é realmente interessante e consegue reunir num lugar só várias recomendações e dicas para quem quer ser um autor de ficção comercial independente, especificamente publicando romance.

É claro que tem um recorte bem específico do mercado dos Estados Unidos, que é ligeiramente diferente do nosso, mas a lógica continua a mesma. Ele explica indiretamente porque tem tanto livro com CEO e Mafioso e Virgem e Bebê Secreto e... enfim, seja lá qual for o trope da moda que o pessoal sempre reclama com um tom de superioridade no twitter. Na minha opinião, uma das coisas mais importantes de se ter em mente quando se trabalha nesse esquema de você-ser-sua-própria-editora é o planejamento. Nesse livro, a Zoe York bate na tecla do planejamento da imagem como escritor e da construção do que você pode oferecer para os seus leitores, com um foco no planejamento de séries de romance.

Sabe aqueles autores que você pensa "ah, é de fulano, com certeza vai ter x e y e eu vou gostar, mesmo que não seja tão bom assim"? A ideia desse livro é dar dicas para quem quer construir uma carreira nesse sentido. O objetivo aqui não é você só escrever o que é comercial, mas encontrar um meio termo entre o que você quer escrever e o que é comercial. Tentar organizar suas histórias de forma que elas conversem com o seu público, de forma que o primeiro livro traga a maior quantidade de pessoas novas para te conhecer sendo o mais abrangente possível, etc. Ela dá exemplos do que ela escreve, que são romances de cidade pequena e com ex-militares, mas acho que o importante aqui é você estudar o mercado que você quer entrar e ver o que é mais popular ali antes mesmo de começar a escrever. E já se organizar com o básico de cada livro, com casal, tropes, etc, de uma série para conseguir dinheiro o suficiente para se sustentar.

Acho que a parte mais relevante é essa: ela está falando com quem tem esse objetivo específico. Quem quer seguir esse caminho de publicar com alto volume, histórias mais ou menos curtas (ela sugere que elas tenham entre 50 e 70 mil palavras, não mais que isso), que atingem um público que quer uma dinâmica bem específica e que lê muito rápido. Mas tem muita coisa que acho que é interessante para quem gerencia a própria carreira e publica por conta própria e pode minimizar alguns sofrimentos do caminho.

Uma coisa que me deixou surpresa foi ver que o que eu sentia instintivamente e com base em observação foi corroborado por uma autora com experiência na área. Se o seu objetivo é pegar um público mais geral, que é composto primariamente de mulheres cis heterossexuais, por exemplo, você precisar começar a série com um casal duárico, mesmo que as pessoas do casal sejam bi ou pan, e/ou algo que se encaixe num clichê que é mais amplamente querido no público que você vai atingir. Se é atingir um público YA BR que está interessado em histórias LGBT+ e com representatividade, tem que ser um livro sobre SER GAY (aqui usado como termo guarda-chuva pra LGBT+ que uso como a velha que sou), por exemplo, e fazer sua divulgação em cima disso. O negócio é que, se as pessoas te conhecem, elas acabam lendo qualquer coisa que você escreve. Mas para te conhecer, elas em geral não dão tanta chance assim para algo muito diferente, é mais garantido se for algo que elas SABEM que gostam. E eu acredito que todo mundo tem histórias mais diferentes e fora da casinha e histórias mais conectadas com os clichês e tropes, mesmo que subverta eles em algum momento. O argumento da Zoe York é que você precisa organizar suas ideias para colocar como primeiro lançamento o que é mais perto dos clichês e tropes, se você quiser ter uma carreira independente e se sustentar com ela.

É por isso que a gente acaba vendo autora de romance que é casada com mulher publicando só romance duárico; que muita gente nessa área deixa de lado romances entre mulheres e LGBT+ em geral, que muitas não exploram gêneros mais diferentes como paranormal, fantasia, harém, histórias com poliamor, etc. A leitora média de romance no Brasil é bem conservadora e o até cenário está começando a mudar nos últimos anos, com leitores mais diversos entrando pro público (inclusive, ano passado não tinha achado nenhum romance de harém publicado no Brasil na Amazon, seja tradução ou em português, e agora eu já achei TRÊS!!), mas quem se sustenta com isso acaba tendo que dançar conforme a música pelo menos nas aparências, para tentar atrair as leitoras e pagar as contas.

Enfim, posso ficar horas falando sobre isso!

Termino só falando que essa lógica inteira não necessariamente se aplica para quem quer seguir uma carreira de publicação tradicional, nem necessariamente funciona para todo mundo, mesmo que a pessoa tenha esse desejo de ser um autor comercial. É interessante para ver um ponto de vista sobre o assunto de alguém que tem uma carreira e longa e muitos livros publicados e apanhou muito (ela fala todas as coisas que fez errado no início ao longo do livro, ahaha) e eu recomendaria muito para todo mundo que fica "ah, meu livro é tão bom e tem tanto livro ruim que vende muito mais que o meu, qual o problema?". A questão não é qualidade em si, é alcançar o público e posicionar o livro corretamente e, nessa obra, Zoe York dá algumas dicas de como avaliar esse posicionamento.

Ela também tem alguns materiais extras no site do livro, além de mais dois livros, um sobre planejamento de marketing e o outro sobre metas. O primeiro livro está R$ 1,99!

Estudos sobre Ivan

Eu acho engraçado que, quando decidi que iria escrever essa newsletter sobre todo o processo envolvido com lidar com o Ivan, eu não imaginei que ele me daria trabalho aqui também.

Mas cá estamos nós. Essa é a terceira versão dessa parte da newsletter e, embora as outras estejam boas, nenhuma parecia certa. Com o Ivan tudo é assim: eu planejo as coisas, organizo os pontos de enredo e de personagem e, quando vou escrever, tudo fica completamente diferente do que eu imaginei que seria, ao mesmo tempo em que não fogem do que eu planejei e do papel que elas tem na história. Uma das primeiras características que eu determinei para o Ivan é que ele seria difícil de conhecer, com várias máscaras, diferentes facetas, escolhendo muito bem para quem ele mostra o quê. Eu não imaginei que isso se aplicaria a mim também. Mas vamos por partes.

Alquimistas é uma história que, desde sua gênese, era centrada nos personagens, em uma cadeia de ações e reações. Na minha primeira ideia, em 2012, a história era bem diferente do que é hoje: ela surgiu como uma história de duas irmãs investigando o desaparecimento do pai, acompanhadas por um investigador que quer descobrir não só o que aconteceu com o pai delas, mas confirmar se as suspeitas do Conselho de Alquimistas de que suas pesquisas eram ilegais era real. As duas irmãs, então, tentam impedi-lo de descobrir a verdade: o pai delas não só realizava pesquisas ilegais, como o fazia com o marido de uma delas, que também estava desaparecido. Marido este que elas sabiam desde o início que era o responsável pelo desaparecimento do pai.

O marido era o antagonista.

E um dos interesses românticos.

Um homem chamado Ivan.

A história mudou radicalmente ao longo dessa década, como é natural, até ficar mais concreta e tomar a forma que tem hoje. Eu não vou dar detalhes para não estragar a jornada (embora eu ache que ela fique ainda mais interessante quando você sabe para onde ela está indo), e a primeira versão do nosso Ivan, o que chegou até vocês, começou com cartas. Elas cobrem o período desde que ele e Morena começaram a se corresponder, quando eram crianças, até algo que acontece alguns anos depois da história em Tratado. Olhando para elas agora, depois que a história foi se ajustando, é até engraçado ver o que permanece igual e o que se modifica. A graça de escrever muito ao redor da história é conseguir comparar os diferentes estágios de ideias, né? (A desgraça é demorar ANOS para terminar alguma coisa)

Enfim, vou parar de divagar e ir direto ao assunto, porque parece que a vontade do Ivan dessa vez é que vocês vejam como ele era antes de eu conhecê-lo melhor (com o bônus de ver como a Morena era adorável quando era criança).

Vocês podem acessar o texto extra aqui. A senha para ler é... Ivan.

Preferi não colocar aqui na newsletter porque ela ia ficar muito longa, então estou testando colocar no meu site e ver se fica melhor! Quem quiser ler, só ir lá e vocês podem comentar mais diretamente e tudo o mais. Só o lembrete de que os textos pertencem a uma versão muito antiga dessa história e várias informações presentes neles se modificaram ao longo das versões, mas o espírito continua igual.

Destaques do Mês

  • Esse mês, Hannibal entrou na Prime Video e eu dediquei meu mês praticamente todo para ver todas as temporadas. Atualmente, estou no meio da terceira (e última) e como é boa essa série. Na primeira vez que ela foi para streaming, eu vi os cinco primeiros episódios e, como assistia na hora do almoço, acabei ficando meio enjoada, deixei para ver depois (eu tenho nojo de várias coisas, mas nenhuma delas é a carne que o Hannibal manipula AHAHAHA). Agora, acabei assistindo praticamente uma temporada por fim de semana, incapaz de DESGRUDAR os olhos da tela. É incrível como a história vai se transformando e a primeira e a segunda temporada são complementos perfeitos, continuações diretas uma da outra. O trabalho de amarrar tudo direitinho, de direção, de atuação, de cenários... é tudo perfeito e muito bem feito. E o relacionamento do Will com o Hannibal é completamente maluco e MUITO bem construído, em cada detalhe, em cada interação, em cada coisinha que um deles faz. Eu recomendo muito. Também recomendo esse vídeo aqui, que analisa de forma muito interessante o relacionamento entre eles.

  • Continuo com dificuldade de leitura, mas o audiobook tem me ajudado muito. Atualmente, estou maratonando a série Their Vampire Queen, uma história de romance paranormal de harém que é divertida demais. A abordagem que a autora dá para vampiros é muito diferente e a pesquisa sobre diferentes mitologias que ela fez foi extremamente profunda, o que torna as coisas mais interessantes ainda. A premissa é a seguinte: Shara está fugindo de monstros desde que sua mãe morreu, quando ela tinha 17 anos. Numa noite, enquanto trabalhava além do horário, foi atacada por esses monstros e auxiliada por dois homens, que revelam para ela que ela é uma rainha vampira. Daí é só ladeira abaixo - ela descobre que é a última rainha vampira descendente de Ísis, que existe toda uma sociedade vampira com política extremamente complicada e que ela precisa chamar para si outros guerreiros vampiros, para se proteger. É bem simples, mas ao mesmo tempo extremamente elaborado e o enredo basicamente se divide em três coisas: ou eles estão transando, ou sendo atacados ou os dois ao mesmo tempo. Nenhum personagem é hetero, é uma farofada inacreditável com um bando de coisa que aparentemente não deveria funcionar, mas funciona. Tá sendo diversão GARANTIDA. Eu já estou no livro 5 de 6 e estou ouvindo pelo Scribd.

  • Eu falei de Spy X Family na newsletter anterior, mas preciso falar novamente PORQUE É PERFEITO, OBRIGADA. Enfim, estou lendo o mangá agora pelo app MangaPlus, da Shueisha, que disponibiliza os capítulos legalmente em diversos idiomas, e eu estou profundamente apaixonada pela história, é isto.

  • Eu sempre me aventuro na cozinha, né, mas em geral eu sou bem ruim com confeitaria e bolos no geral. Mas esse mês eu fiz esse brownie, adaptando a receita para ser sem gluten (mesma medida com a farinha da Schar e o dobro do chocolate derretido; eu vou testar no futuro com farinha de arroz, mas acho que a mesma medida de farinha de arroz + uma colher e meia de sopa de maisena deve funcionar) e ficou uma delícia! Recomendo essa receita porque ela é bem simples e dá certo. Ela só não rende muito, como toda receita de país de primeiro mundo, mas eu acidentalmente derramei água no chocolate derretido e rendeu mais, sem dar prejuízo no sabor (acidentes que dão certo!!!).

  • Fiz uma thread com lançamentos de SFF adulta no Brasil que estão em pré-venda ou lançaram de abril para cá. Quero fazer uma do começo do ano e uma de autores independentes, mas tá me faltando tempo. Principalmente para os independentes, porque é muito difícil saber qual é o público alvo das histórias uma vez que as capas não ajudam, as vezes os próprios autores não sabem se é ou não e não comentam. Enfim, eu vou acabar fazendo dos autores que falam explicitamente que é para o público adulto ou de quem eu já sei que é escrito para esse público.

  • Os primeiros ebooks da Noveletter foram lançados! Essa primeira leva tem As Incertezas da Fortuna, da Marina Orli, nossa novelinha das seis e As Formidáveis Gomes e Doyle em Pó de Fada, da Giu Yukari Murakami, o primeiro dos continhos "entre temporadas" que é basicamente Sherlock/Watson Sáfico numa Belém Steampunk!

Acho que é isso para esse mês!! Como sempre, só responder esse e-mail se tiver algum comentário, me chamar no twitter, enfim, onde quiserem. Eu também ando pensando em fazer alguma palestra/seminário/roda de conversa sobre essa parte do marketing e mais mercadológica, pensando no posicionamento de mercado mesmo e em análise do mercado, não técnicas do cotidiano e tal. Se vocês tiverem interesse, me avisem!

Bom julho para vocês!

Onde encontrar meus livros:

Veja os avisos de conteúdo em meu site.

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