#25 - Novembro: Mas que entrevista é essa?

Entrevista com o Vampiro, planos e um canal no telegram

Nessa newsletter, você vai encontrar:

  • Mas que entrevista é essa? Uma breve resenha da série de Entrevista com o Vampiro;

  • Planos foram feitos para serem quebrados: um breve resumo da falha épica que novembro foi para a escrita e como está tudo bem;

  • Agora temos um canal no Telegram!

Mas que entrevista é essa?

gif de entrevista com o vampiro, a série, com o Louis e o lestat semi-nus deitados no sofá

Minha história com Entrevista com o Vampiro começa em 1998 ou 1999, quando por uma profusão de fatores envolvendo primos mais velhos e a loucura que eram os anos 1990 acabei assistindo o filme e aquilo talvez tenha sido TATUADO em minha mente. Me lembro de estar deitada na sala da minha tia com meus primos como se fosse ontem, completamente fascinada por aquela história que talvez não devesse estar vendo. Avance para 2003: outra tia minha está fazendo uma limpa nos livros dela e me dá um livro cheio de morceguinhos na capa, intitulado O VAMPIRO LESTAT. Aos treze anos, eu já era um tiquinho obcecada por vampiros e ela achou que eu iria gostar, mas acho que não imaginava que o Lestat fosse destruir a minha vida (positivamente)(de verdade). Ao longo da adolescência, fui devorando um livro atrás do outro das Crônicas Vampirescas, pulando um aqui e ali (nunca li A História do Ladrão de Corpos, por exemplo), trocando os livros com minhas amigas, citando o Armand, o Louis, o Lestat, a Gabrielle e o Marius em 8 a cada 10 bilhetes que trocava com as minhas amigas.

Capa da sétima edição de O Vampiro Lestat, com um fundo rosa e vários morceguinhos que viram bocas com canino.

Minha capa era essa aqui

Esses personagens estão tão profundamente no meu imaginário que lembro detalhes completamente ridículos dos livros, como a cena icônica em que o Lestat chupa uma freira menstruada – e não no pescoço. Estou relendo Vampiro Lestat agora, dessa vez em inglês e audiobook, e fiquei impressionada com o quanto recordo dessas histórias, de detalhes pequenos mesmo que eu nem sabia que sabia.

Então assim: fiquei com medo quando soube da adaptação para série de TV de Entrevista com o Vampiro conforme as notícias foram saindo. O único medo que não tive foi de não ser gay como a história deveria ser, porque acredito no Christopher Rice. Todos os outros medos eu tive: que deixassem o Louis ser senhor de escravos mesmo com o Jacob Anderson o interpretando, que o Sam Reid caísse na armadilha de tentar imitar o Tom Cruise, que todas as mudanças deixassem o negócio pouco fiel à história. Quando sentei para assistir o primeiro episódio, eu não esperava absolutamente nada.

E recebi tudo.

Para mim, o mais importante em uma adaptação para audiovisual é captar o espírito da obra original. Não sou purista e em geral acho chato quando uma adaptação só transcreve o livro para as telas, sem fazer as mudanças necessárias para que a história funcione em um outro meio. A literatura e o cinema são duas mídias diferentes, com funcionamentos distintos, e não dá para só fazer uma cópia em carbono um a um em uma adaptação. E Entrevista com o Vampiro é uma aula de como fazer uma adaptação bem feita. Tudo que faz a gente se apaixonar pelos livros está lá: a dinâmica completamente fodida do Lestat com o Louis, os dilemas que eles têm em relação à própria existência, a forma como o fato deles serem monstros só acentua algumas dinâmicas da vida real, os personagens apaixonantes. Todas as mudanças que foram feitas foram para dar um novo frescor para a história e deixá-la mais interessante, mais profunda, para ser uma conversa em cima dos temas principais. Funcionou perfeitamente bem, a um ponto que no fim da temporada, o fandom inteiro estava fazendo teorias de como o show iria adaptar os próximos livros, tão animados quanto se fosse uma obra completamente original.

Existem duas modificações que considero as mais notáveis e mais importantes. A primeira foi tudo relacionado ao Louis: nove a cada dez fãs das Crônicas Vampirescas não gosta do personagem nos livros. A Anne Rice não gostava dele (e tenho quase certeza que é justamente por isso que ele é o que tem as maiores mudanças e o queridinho dela, o Lestat, está idêntico). Tem vários motivos para isso, mas acho que o fato dele ter sido um senhor de escravizados e depois virar um vampiro que fica de drama para poder chupar sangue de humanos pesa bastante. Ele também é chato e os dilemas dele parecem muito rasos, sabe? A série resolve tudo isso adicionando na equação dois aspectos importantíssimos: raça e sexualidade.

Além de ser uma aula de adaptação, a série também é uma aula de como modificar a raça de um personagem de forma significativa. Louis não é um personagem branco pintado de preto, a raça dele importa e faz diferença no enredo e na história, na dinâmica dele com o Lestat, no trabalho que ele é forçado a fazer, em como ele se conduz no mundo. Além disso, ele é abertamente gay e a questão da sua identidade no início do século XX no sul dos EUA é extremamente relevante para o desenvolvimento dos personagens e para a construção de todo o drama que se desenrola. Também funciona bem até demais ele ser um vampiro, um monstro: ele não é bem vindo em lugar algum, ele é o diferente, o outro. É ser um monstro que o afasta da família, mas também é o que o finalmente lhe dá poder para expressar a raiva que ele guarda pela forma como é tratado, que dá o poder para ele viver sendo quem realmente é, sem se esconder. E daí se desdobram todos os dilemas do personagem. A questão de se alimentar ou não de humanos é secundária, é só uma preferência que ele tem, porque tem tantas outras coisas acontecendo com ele que isso é só uma nota de rodapé.

A segunda é da timeline. Nos livros, o Lestat encontra Louis mais ou menos uma ou duas décadas depois de ter sido transformado. Ele é novo, inexperiente, todo mundo que ele ama ou o abandonou ou morreu (e o Armand tem um papel importante aqui nesse drama dele), e ele vê no Louis alguém que talvez pudesse entendê-lo. Veja bem, é importante notar que o Lestat ama quebrar regras vampíricas e a essa altura, ele já transformou a própria mãe e o namoradinho dele de infância, já tocou violino para mãe de todos os vampiros e bebeu o sangue dela, e o caralho a quatro. Na série, provavelmente tudo isso já aconteceu, mas com muito tempo entre esses acontecimentos e o encontro entre Lestat e Louis. Lestat já tem quase 200 anos, tem muito mais experiência e conhecimento do que nos livros, e essa dinâmica ficou perfeita. Além disso, há uma mudança crucial: a entrevista em si. Nos livros, Louis encontra Daniel e dá a entrevista na década de 1970, que vira um livro publicado e best-seller. Na década de 1980, Lestat acorda do seu sono para virar um astro do rock e acaba lendo o livro de Louis e escrevendo a sua própria versão dos fatos, o livro que virou O Vampiro Lestat. Nada disso aconteceu na série. A entrevista de 1970 foi abortada e agora Louis chama Daniel para refazê-la, em 2022. E é exatamente esses aspectos que fazem os fãs ficarem se perguntando como vão adaptar a timeline e os acontecimentos da história para a série. Algumas coisas já aconteceram ou irão acontecer? Será que o Lestat JÁ virou um astro do rock? Será que o Lestat MATOU o rock?

Por fim, acho que o maior trunfo da história é a temática principal dos série, de narrativas, de como toda história pode ser contada de várias maneiras dependendo de quem a conta, de como toda memória é mentirosa, de como todos os narradores são pouco confiáveis. Os livros são assim – só de começar com um livro narrado pelo Louis como entrevista e seguir como livros escritos pelo Lestat, tendo um ou outro escrito pelo Armand, ou o David Talbot da Talamasca, ou a Pandora… vocês entenderam. Nenhum dos narradores é confiável, nenhum deles é imparcial. E a série pega essa estrutura dos livros e faz dela sua casa, a base na qual constrói absolutamente tudo. E eu tenho certeza que essa temporada foi só o começo e que na próxima, isso vai vir ainda mais forte. O que me deixa surpresa, na verdade, é como eles são pouco sutis quanto a isso, esfregando na cara que nada do que a gente está vendo é confiável a cada episódio e ainda assim teve gente que NÃO entendeu isso. Enfim, é triste estar na internet e presenciar em tempo real a morte da interpretação de texto.

Acho que não tem nem discussão: essa foi a melhor série desse ano para mim, sem dúvida alguma. Nenhuma é tão competente em tudo que se propõe como essa, nenhuma é tão gay, nenhuma trabalha tão bem tudo que se propõe no tempo que tem. Recomendo demais para todo mundo, quem leu os livros ou não, e já estou me preparando para rever pela segunda vez, agora com todas as informações, para pegar as coisas que deixei passar.

Até sair a segunda temporada, me resta apenas ficar completamenteobcecada por todas as matérias, entrevistas com o elenco e informações de bastidores que eu conseguir!!! E me segurar muito para não escrever fanfic Sam/Jacob.

Planos foram feitos para serem quebrados

Sinto que passei o mês de novembro inteirinho que nem esse gif da Usagi, correndo feito uma doida para dar conta de conseguir fazer tudo. Minha última newsletter foi toda sobre o projeto do Nanowrimo que eu acabei nem conseguindo fazer direito, porque a junção louca de fim do semestre para mim e para as turmas com as quais trabalho, prazos de trabalho que se aproximavam e tudo relacionado a Estudo (incluindo a edição e revisão dos capítulos, que, dessa vez, está acontecendo enquanto a história é lançada) me deixou praticamente sem tempo livre.

Eu costumava me sentir mal quanto a isso antigamente. A mera ideia de fazer um plano e não seguir me deixava frustrada e desanimada, mas agora é só mais uma terça-feira. Acho que depois de 2020, eu estou pronta para rebater tudo que o universo jogar para frente e reajustar de acordo, ahaha. Ainda assim, considero importante fazer planejamentos porque eu posso até não conseguir fazer no meu tempo, mas em algum momento eu vou fazer. E fica bem mais fácil de seguir se eu já delimitei o caminho.

No final, foi importante parar para pensar em Encantamento, mesmo sem conseguir escrever mesmo. Arrumei vários pontos do enredo que eram só vibe, testei alguns inícios, fechei melhor alguns aspectos que estavam abertos — me forçou a parar e dedicar algum tempo para construir alicerces melhor para a história. Enfim!! Nada foi em vão!

Só queria compartilhar isso aqui com vocês porque vejo muita gente desanimada porque está sem tempo para escrever, que não consegue se dedicar, etc, e dizer que está tudo bem. Tem momentos que a gente precisa elencar prioridades e deixar de lado algumas coisas, mas sempre podemos voltar a elas!

Canal no Telegram

Com o surto do Elon Musk comprando o twitter, todo mundo começou a considerar outras plataformas e outros meios para se conectar com leitores, outros escritores e pessoas aleatórias da internet. Essa newsletter sempre foi pensada como uma alternativa a isso — você não precisa me seguir para saber o que está rolando, não precisa aturar meus shitposts ou os 79 milhões de reblogs nas mesmas cenas de Entrevista com o Vampiro que faço no tumblr. Uma vez por mês apareço na sua caixa de entrada trazendo... algo, e em troca, recebo e-mails de resposta que me fazem gargalhar.

Mas eu sinto falta de ter um contato um pouco mais direto e de ter uma comunidade para trocar recomendações. Eu comecei na internet com um blog cujo objetivo era falar do que eu gosto e achar mais gente que compartilha meus interesses e essa vontade permanece até hoje! Por isso, depois de pensar muito, ressuscitei de forma meio descompromissada a ideia de abrir um grupo no Telegram. A ideia por enquanto é só compartilhar coisas interessantes que eu vi, dar notícias mais rápido e compartilhar indicações do que vi e achei interessante e receber a de vocês também. As duas primeiras postagens dessas foram excelentes e aumentei bem minha lista de filmes para ver e podcasts para ouvir.

Se quiserem participar, é só clicar no botão abaixo! Não precisa interagir, mas abro as portas da minha casa para você vir fazer comentários gigantes sobre a sua mais nova obsessão e compartilhar com pessoas que amam ver pessoas falando de forma apaixonada do que gostam!

Esse mês não vou fazer o resuminho das coisas que vi e amei porque não tem tanta coisa assim, mas mês que vem me aguardem!

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