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#20 - Julho: Sobre acreditar em ideias, motivação e os próximos meses

Essa newsletter tem uma reflexão/desabafo e algumas infos de lançamentos do próximo semestre! Você encontra: 100 ideias (uma reflexão sobre o meu fluxo de ideias); O que vem aí no segundo semestre Apurado do mês 100 ideias Em algum momento entre 2013 e 2015 eu parei de ter

Essa newsletter tem uma reflexão/desabafo e algumas infos de lançamentos do próximo semestre! Você encontra:

  • 100 ideias (uma reflexão sobre o meu fluxo de ideias);

  • O que vem aí no segundo semestre 

  • Apurado do mês 

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100 ideias

Em algum momento entre 2013 e 2015 eu parei de ter ideias de histórias novas. Quem me conheceu nesse período sabe que eu tinha uma ideia nova de história por semana, praticamente, desde que era adolescente, e alguns conceitos se uniam a outras para virar histórias maiores; algumas ideias morriam depois de algumas semanas porque eram até interessantes, mas não factíveis, outras iam para um caderno ou um arquivo do word em que eu ia adicionando informações ao longo dos anos, conforme ela se desenvolvia. A própria ideia da Trilogia Anômalos, que lancei como Bárbara Morais, veio em um rompante, depois de uma aula de ciência política sobre legitimidade do estado, numa historinha que nessa última década eu já contei inúmeras vezes.

Mas em algum momento entre publicar meu primeiro livro e o fim da trilogia, eu parei de ter ideias. Elas só desapareceram. Eu já tinha uma reserva consideravelmente boa de ideias dos anos anteriores (Starships, que eu trabalhei por 3 anos e engavetei, a própria ideia de Alquimistas e mais umas outras aí que algum dia vou escrever), então não era necessariamente preocupante, só era ruim. Meio vazio, sabe? Estava acostumada a ter ideias sem parar, a todo instante, em uma explosão criativa que eu mal dava conta de processar, mas que eu amava. Cheguei a pensar que talvez nunca mais tivesse uma ideia nova na minha vida e tivesse que trabalhar só com o que tinha imaginado até 2013, por aí (acho que é a data da história "mais nova" que tenho desse período) e isso me deixou meio assustada e meio triste, mas voltei para focar no que eu estava fazendo porque minha política, no fim das contas, é "tudo se resolve de um jeito ou de outro".

Corta para o mês passado. A Rina Sawayama lançou o clipe de This Hell e imediatamente não só fiquei obcecada como também tive uma ideia de história que veio quase TODINHA, de uma vez, exatamente como antes. Eu tenho mais pontos de XP de escrita agora, então além de escrever as linhas gerais já fiz uma sinopse e pensei em como encaixar a ideia em alguma coisa que eu já tinha – e ela cabe direitinho como spin-off de uma ideia que tive ano passado, enquanto escrevia meu conto para a Maçã do Amor, que eu não sei se vai ser a próxima história que vou escrever porque eu ainda tenho Shitty Wizards, que surgiu no início do ano passado e o Isekai, que surgiu no final do ano passado, e ainda tem Alquimistas e os outros e…

Daí eu percebi que desde 2018, quando tive a epifania que jogou Alquimistas no caminho que a história segue hoje, eu voltei a ter ideias. Muitas, de todos os tipos, para histórias longas, para contos, para séries relacionadas, para enriquecer ideias que já tenho. E fiquei pensando com os meus botões sobre o que mudou e nem foi difícil entender.

Acho que preciso começar do início, para que vocês entendam tão facilmente. Em algum momento de 2011 uma pessoa entrou em contato comigo falando que estava começando como agente literária e gostava do meu blog e sei lá o quê, será que eu teria alguma história de ficção para ela avaliar? Eu nem sabia direito o que era nem o que fazia um agente literário, além do que eu observava os gringos falarem, e estava num período da minha vida meio "bem, vamos ver no que dá", então enviei o que eu estava trabalhando na época. Era uma história que eu chamava de mutantdudes e a pessoa achou interessante e disse que achava que tinha potencial para ser publicada. Eu pensei: por que não?

Terminei a história em 2012, a gente enviou para algumas editoras e no início de 2013 a gente tinha fechado a trilogia completa com a Editora Gutenberg. Veja bem, na época eu sabia que era meio complicado, mas não sabia o quanto era insano fechar logo de cara uma TRILOGIA no Brasil. O mercado editorial aqui não era tão transparente quanto é hoje e não tinham muitos autores e outros profissionais falando a respeito do funcionamento do mercado, isso foi uma coisa que veio mais pesada com essa minha geração de autores/blogueiros/profissionais do mercado. Nenhuma de nós conhecia o mercado bem o suficiente, aliás, eu e minha agente na época, e vários escorregões aconteceram, mas faz parte de ser parte da primeira leva de uma agente iniciante que não tinha experiência prévia alguma com o mercado editorial. Eu tive muita sorte de estar com a história certa na hora certa, num mercado que estava abrindo, com uma editora que havia apostado em uma autora nacional e tido resultado e decidido que era um bom investimento apostar em autores brasileiros. Essa minha leva de lançamentos é a mesma que teve o Felipe Castilho, o Eric Novello, o Jim Anotsu e a Babi Dewet, e é uma honra imensa estar junto de autores que eu amo e admiro tanto.

O problema, eu acho, é que em nenhum momento de todo esse processo eu parei para pensar. Eu fui lá, escrevi, consegui. Escrevi os dois outros livros da trilogia e lancei. E meio que uma vez que você lança algo, principalmente numa circunstância como essa, que é para poucos e tanta gente quer, parece que não tem mais volta. Você precisa continuar lançando e sendo autor e sei lá o quê.

Esse foi o problema #1: pressão de tentar fazer o que vende e continuar no mercado. Eu consigo me lembrar claramente que quando terminei o terceiro livro de Anômalos, tive uma conversa com minha ex-agente em que pegamos minhas ideias e vimos o que era mais comercial para eu trabalhar, o que seria melhor para a minha carreira. Claro que com o benefício do tempo consigo ver claramente o problema que existiu naquela reunião: eu não sabia qual carreira queria ter. Eu só tinha várias ideias e vontade de contar histórias, e havia lançado o primeiro livro como algo para adolescentes. Assim, a ideia de Fantasia Urbana/Romance Paranormal foi descartada quase imediatamente por ser considerada batida e com personagens numa faixa etária que não era interessante, indo para a outra ideia que era mais próxima do meu primeiro lançamento mas que também não tinha a idade certinha para ser YA, mas que achei que conseguiria adequar sem problemas (spoiler: não consegui). Também aceitei um projeto que me convidaram que nunca foi para frente, fora da minha zona de conforto, porque POR QUE NÃO, NÃO É?

E aí entra o problema #2, que acho que é o mais complicado e o mais difícil de falar porque, no fim das contas, não quero prejudicar ninguém. Mas a agente com a qual eu trabalhava não sabe trabalhar com o tipo de ficção especulativa que eu escrevia e que queria escrever. Ela não é leitora do tipo que livro que me influencia, não gosta do estilo que eu gosto, não é a especialidade dela (inclusive, qualquer um que pegar para ouvir um episódio em que eu participo do Pavio Curto tem 95% de chance de me ouvir falando que ela odeia tudo que eu gosto). É normal que agentes tenham especialidades diferentes e trabalhem melhor com alguns gêneros do que com outros, mas perceber isso é uma jornada gigantesca. E, ali perto de 2015, assim como a editora que me publicava decidiu que livros de ficção especulativa não vendiam, ela também acreditava nisso, lá no fundo, talvez sem nem perceber. As ideias que eram comerciais eram as que davam para disfarçar melhor, as que podiam ser vendidas de forma mastigada como "ah, é só uma história no ensino médio só que no espaço". Durante a rescisão, encontrei uma carta de apresentação de Starships que descrevia a história, que é space opera, como realismo mágico. A falta de apoio da editora é comum e até esperada, porque é isso, são ondas, né? Em um momento uma coisa vende, em outra não. Mas o conjunto disso com a falta de apoio da agente foram me murchando, tirando meu entusiasmo pelo negócio. Eu meio que entrei numa vibe de fazer porque precisava fazer, porque o sustento da agente em questão dependia da minha escrita para sobreviver (mesmo ela dizendo repetidamente que eu não escrevia), mas as coisas só não fluiam.

Porque eu também estava tentando encaixar a história de forma a vender ela mastigadinha, o mais próximo da realidade possível, com uma idade padrão, para caber numa caixinha. Ninguém acreditava nas minhas ideias de verdade, nem eu mesma.

Foram alguns anos nessa crise aí, e apesar de eu ter lançado um conto por ano, pelo menos, enquanto escrevia e reescrevia o livro que havia começado em 2013 para tentar fazer ele caber nessa caixinha, achava que não escrevia mesmo, que minhas ideias não serviam mesmo, que talvez eu só não conseguisse mesmo.

E aí percebi que eu não quero. Eu só não quero nada disso. Não é um livro impresso na minha estante ou numa lista de mais vendidos que importa pra mim, não é ter uma editora e ser publicada tradicionalmente, não é caber no mercado, não é nem ter muitos leitores. Eu não quero ser escritora de carreira nem me sustentar com livros, só quero escrever o que me diverte, sem fazer as coisas caberem em caixinha nenhuma. As coisas como eram antes eram perfeitas para mim: eu atualizava os capítulos da minha fanfic, recebia 10 comentários do povo surtando e surtava junto, e seguia minha vida. É isso que eu quero. Escrever a ideia que me vier na telha e me divertir, sem me preocupar se vou vender 10 ou 500 ou 20 mil exemplares e ter a liberdade financeira de poder fazer isso. Esse é meu objetivo enquanto "escritora".

Essa epifania foi em 2018, por aí, quando larguei Starships e fui trabalhar em Alquimistas, meio que à revelia da minha agente. Eu decidi que não ia pegar a ideia mais comercial, ia trabalhar com a que mais me divertia e escrever ela do jeito que era para ser, sem diminuir nada. E daí em diante foi abrir portas para a imaginação e o fluxo de ideias que eu tinha antes voltou. Ele voltou e de forma muito mais estruturada do que antes, com a experiência que adquiri. Voltou com muito mais confiança e cada ideia que eu tenho é recebida com amor e carinho, independente do quão comercial ela seja. É o que elas merecem, não é?

Eu quis compartilhar isso com vocês porque nos últimos tempos tenho visto cada vez mais gente insatisfeita na timeline, seja autores independentes, iniciantes, mais experientes, publicados de forma independente. Vejo pessoas falando que não tem mais ideia, que não sabem se isso é para elas e eu acho que é importante a gente parar e pensar em quais caixinhas estão nos colocando, em quais caixinhas a gente está se diminuindo para caber. E por quê? Para quem? Com que objetivo? O que é que te segura e te coloca para baixo? A gente pode fazer algo quanto a isso?

E acho que o mais importante disso tudo é você se rodear de pessoas que te ajudam e te apoiam, não que te botam para baixo e tentem te limitar. Não só em amizade, mas em todo o processo: revisores, preparadores, editores, agentes literários. Todo mundo precisa estar a favor de você, e se alguém no meio do caminho não te dá o apoio que você precisa, está tudo bem você pensar em formas de mudar e encontrar alguém que vai dar.

Segundo Semestre

Esse mês não tem extra, só atualizações de escrita. Eu estou na reta final de Estudo, que demorou muito mais do que eu esperava (como sempre, né, quando é que eu ACERTO um cronograma?) para terminar. Eu já tinha um pedaço considerável dele escrito, mas tive que jogar quase tudo fora porque não estava funcionando. Agora está funcionando bem até demais, mas esse finzinho está muito INTENSO e eu tenho que trabalhar dobrado, primeiro fazendo um roteirozinho e depois elaborando. Nem sei como vai ser arrumar esse troço. O começo já está com as meninas da Noveletter para edição e a gente está meio contra o relógio agora, porque a história está prevista para começar a sair em meados de outubro.

As coisas estão começando a se acumular por aqui e semestre que vem, preciso me organizar melhor. Tenho dois artigos para fazer para o doutorado e o projeto de pesquisa e o início do primeiro ensaio da minha tese, além das matérias e dos freelas que pego para me sustentar. Ainda viajo mês que vem e no momento estou só 🅰️🅰️🅰️. Ainda assim, eu já estou pensando na história que quero escrever no Nanowrimo, ahaha.

Queria pegar outra coisa para dar um tempo de Alquimistas, mas tenho duas ideias bem promissoras que já tenho bons começos e sei por onde ir. A primeira é o primeiro de Shittywizards, que comentei em alguma newsletter passada, que em resumo são dois magos que se odeiam presos numa casa amaldiçoada tentando desfazer a maldição; e a segunda é a primeira das histórias inspiradas no meu conto para a Maçã do Amor. Eu fiz uma mudança de ordem das histórias depois do livro da Zoe York que funcionou mais do que deveria e resolveu meus problemas, então aqui a gente começaria com a Luci e o Miguel, numa belíssima história heterobait de inimigos que se juntam para destruir um inimigo em comum. Também tem o Isekai, que eu queria fazer como história interativa no Twitter, mas acho que não vai funcionar e pode ser um bom candidato para o Nano. A ideia também é bem simples e clichêzona de Isekai: a protagonista acorda como a namorada do vilão de uma história YA que ela ama e odeia e sabe que o destino dela é morrer, então ela faz de tudo para sobreviver e arrumar os pontos da história dos quais ela tem ódio. Ah, tem vários aspectos do livro e do "mundo" que ela estão que são diferentes também, como a idade dos personagens e algumas descrições físicas que foram convenientemente alteradas ou cortadas. Como ele é basicamente só eu aloprando com todos os tropes de YA, pode ser fácil de fazer fluir no Nano.

Bem, temos até novembro para decidir, né?

Apurado do mês

  • Continuo sem conseguir ler direito, mas terminei de ouvir a série Their Vampire Queen e comecei a ouvir Dial A for Aunties, da Jesse Q. Sutanto e King of Battle and Blood, da Emily St. Clair. Apesar disso, também peguei o volume um da primeira temporada de Under the Oak Tree, de Suji Kim, e se tem uma coisa que eu AMO em novel é como flui rápido. Li tipo 50% em uma noite. Eu já tinha lido a webtoon e é muito parecido.

  • Saiu o trailer da minha passada, presente e futura obsessão, Entrevista com o Vampiro. Eu gostei demais, apesar das mudanças óbvias que fizeram na timeline da história e no background do Louis, porque pessoalmente o que mais me importa é a essência dos personagens, que parece estar inalterada. Além disso, é claramente gay (termo guarda-chuva).

  • Eu vi RRR, o filme indiano de Tollywood, e recomendo demais. Tem bromance! Gente lutando jogando tigres em outras pessoas! Números de dança incríveis! Britânicos sendo retratados como os colonizadores horríveis que eles são! São 3h de filme, mas vale muitoooo a pena.

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