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#17 - Abril: É de família
Quando enfim decidi que iria trabalhar com dois pseudônimos, para públicos e tipos de histórias diferentes, uma das coisas que eram claras para mim era a seguinte: o mesmo pseudônimo que publicasse romance publicaria livros de horror. A princípio pode parecer um contrassenso – são, afinal, dois gêneros literários que pertencem a domínios completamente diferentes no senso comum – mas acredito firmemente que as estruturas são semelhantes e, ainda mais, que uma história de horror só tem a ganhar com elementos românticos e vice e versa. São dois lados da mesma moeda, que, em minha mente, se complementam muito bem.
Quando enfim decidi que iria trabalhar com dois pseudônimos, para públicos e tipos de histórias diferentes, uma das coisas que eram claras para mim era a seguinte: o mesmo pseudônimo que publicasse romance publicaria livros de horror. A princípio pode parecer um contrassenso – são, afinal, dois gêneros literários que pertencem a domínios completamente diferentes no senso comum – mas acredito firmemente que as estruturas são semelhantes e, ainda mais, que uma história de horror só tem a ganhar com elementos românticos e vice e versa. São dois lados da mesma moeda, que, em minha mente, se complementam muito bem.
Assim, quando a coletânea Quatro Minutos para a Meia-Noite, organizada pela Agência Página 7, acabou sendo reorganizada após a reestruturação da agência literária que costumava me representar, soube no mesmo instante que minha história seria republicada com o pseudônimo que lhe cabia, agora – Isabelle Morais, com uma suave mudança do público alvo para o marketing (mais uma das obras que funcionam muito bem como crossover!) e uma promessa que me permite explorar mais essa ideia no futuro.
Mas vamos por partes, como Jack, o Estripador.
O Horror
Demorei um tempo para entender o quanto gostava de horror. Como alguém que foi pré-adolescente no fim dos anos 2000 e adolescente no início dessa década, a ideia de terror e horror foram combinadas em minha mente e ornadas com jump scares, que odeio profundamente (eu me assusto MUITO fácil e sempre sei que vou levar um susto antes dele acontecer, é até engraçado ver filme assim comigo), mesmo com um início de referências que foi construído com filmes slashers e histórias de casas mal-assombradas e com segredos terríveis. Foi preciso muito tempo para conseguir desvincular todas essas ideias e finalmente compreender o que gosto.
Terror e Horror, tecnicamente, são dois conceitos distintos. A Gih Alves (de Coração Mal-Assombrado) fez o TCC sobre horror queer e nos últimos meses a gente conversou bastante a respeito do tema, embora não tenha sido exatamente tão articulado quanto este texto ou o texto acadêmico dela. Segundo Alves (2022)[no prelo]: o terror trata de possibilidades, de lacunas a serem preenchidas com os desconfortos do interlocutor. O horror não - trata de coisas que são monstruosas, por assim dizer, que são feias, indesejadas, que causam uma repulsa imediata. Porém em ambos os casos o que importa não é o medo, em si. Não é o susto, como os filmes haviam me convencido, é o desconforto, é esse confronto com assuntos, criaturas, situações que talvez você não queira enfrentar, mas acontecendo num campo seguro, que é a ficção.
Acho que muita gente tem essa mesma ideia que tive por tanto tempo e quando falam que não gostam de terror (incluindo o horror como a mesma coisa), elas estão falando de um tipo muito específico de obra que não corresponde a todas as obras. Muitas vezes, pode até acontecer da pessoa de fato adorar histórias do gênero, mas sequer saber que se enquadram nele, por não se enquadrar na ideia que o senso comum faz (e o marketing, no fim das contas, sabendo disso, não o divulgou como tal).
Todo esse preâmbulo é só para dizer: eu amo horror! Acredito demais que é uma das melhores ferramentas para explorar o que quero na ficção, e atualmente acho que todas as ideias que tenho para serem trabalhadas no futuro tem um pezinho nele (antes de prosseguirmos, só queria deixar aqui essa excelente newsletter do Eric Novello sobre o assunto).
E o meu próximo lançamento pertence inteiramente a este gênero (está até no título da obra), sem nenhuma gota de romance, apenas os traumas intergeracionais, as famílias disfuncionais e os segredos (não tão) bem guardados.
A Fazenda São Lázaro
O Horror da Fazenda São Lázaro é uma história de horror gótico que se passa no cerrado mineiro, na região próxima ao Distrito Federal que conheço tão bem. Conta um pedacinho da história dos Lopes Rezende, uma família tradicional que está em extinção, acidentes terríveis ceifando as vidas dos seus membros com uma frequência suficiente para acharem que são amaldiçoados. O patriarca é um homem horrível e sua fazenda é cheia de silêncios, de ódios, de coisas que todos prefeririam esquecer. Do patriarca tirano, que sente saudades de tempos passados, às crianças, que odeiam o avô, odeiam a fazenda, odeiam sua linhagem, todo mundo tem algo que apagaria, se tivesse a oportunidade.
Quando a escrevi pela primeira vez, para uma coletânea de Halloween do finado Nem um Pouco Épico, algumas dessas ideias ainda estavam nascentes, não muito desenvolvidas. Eu também não tinha habilidade o suficiente para fazer essa história ser o que eu queria e, quando surgiu o conceito de Quatro Minutos…, que saiu em Novembro de 2019, sabia que precisava tentar fazer justiça à essa ideia. Gosto bastante do resultado, mas ainda assim terminei com a sensação de que faltava algo, de que o que escrevi não havia articulado completamente o que queria, de que faltava algum conceito para fazer aquilo ali fazer sentido.
Alguns anos e uma pandemia depois, entendi. O Horror é, antes de qualquer coisa, uma história sobre o que entendo ser brasilidade. O Brasil ama esquecer sua história, ignorar as partes feias, ama desejar que o passado que nos trouxe até aqui fosse diferente. Nossas raízes são muitas vezes apagadas, se não são consideradas dignas; as partes incômodas são preteridas, a nossa própria história reescrita com alguma desculpa para nos fazer dormir com a consciência tranquila.
Mas tudo isso é impossível. É impossível ignorar e apagar a história e os traumas que passam de geração a geração em uma família, os mecanismos de sobrevivência que sempre foram essenciais para que ela permanecesse, sejam eles positivos ou não. Não dá para ignorar e fugir da família que nos cria se quisermos paz, a única alternativa é enfrentá-la, com as partes ruins e as partes boas, entendendo, aceitando, lutando contra o que não quer.
E foi quando compreendi o que precisava fazer para que essa ideia se articulasse melhor… e esse relançamento é o primeiro passo na direção disso. É um conto curtinho, uma história fechada em si mesma, com um fim feliz, considerando o gênero - mas todas as vezes que termino de lê-la, fico com a sensação de que não pode ser só aquilo. Que não dá para se livrar fácil assim de algo tão pesado e tão violento como a família da protagonista. Que o mal pode ter sido derrotado por enquanto, mas quanto tempo isso dura?
E é com essas questões que apresento para vocês a capa e a data de lançamento de O Horror da Fazenda São Lázaro, com exclusividade.
O relançamento:
Relançamentos são um tipo muito particular de lançamento, principalmente um que não teve mudanças significativas. É uma obra que já teve sua própria trajetória, há uma certa parcela de pessoas que já leram, que tem uma opinião sobre ela. A ideia é sempre alcançar mais gente e com base nisso, considerar a melhor estratégia.
Nesse caso, a estratégia é a que chamo de Beyoncé - capa e link para compra serão divulgados nas redes sociais ao mesmo tempo, sem período de pré-venda.
Mas aqui na newsletter, todo mundo recebe informação em primeira mão, então compartilho com vocês não só a data de lançamento, mas também a capa da obra:
Disponível sexta-feira, 13 de Maio
A capa foi feita por Muccegai, inspirada nas capas de romances de horror gótico e terror da década de 1970 e 1980. Eu gosto demais de tudo nela e acho que passa bem o que as pessoas podem esperar da história.
A sinopse oficial não está 100% fechada, mas lembro que esse conto tem alguns avisos de conteúdo muito importantes: racismo, machismo, homofobia, sangue, gore, violência. A história também estará disponível em diversas plataformas digitais, não apenas na Amazon.
Destaques do mês (versão condensadíssima):
Estou numa leitura coletiva de Anna Kariênina, do Leon Tolstói e me divertindo muito mais do que esperei com esse novelão. O livro é muito mais fácil de ler do que eu esperava (e do terrorismo que fazem) e indico demais.
Comecei a ver The Gilded Age, na HBO, e gostei demais. Eu não sei quase nada sobre pormenores de história dos Estados Unidos num geral, não como sei de outros países, e tem sido divertido demais ver uma obra de ficção passada no período que inspirou o principal pensador da escola econômica da qual faço parte a escrever sua principal obra, AHAHA. Mas recomendo para quem gosta de dramas históricos!
O Eurovision está na porta e eu poderia fazer uma newsletter só sobre ele (quem sabe mês que vem?), mas destaco algumas músicas que acho que conseguem muito bem misturar cultura local e internacional: Trenuleţul, de Moldova e Stefania, da Ucrânia. Elas conversam muito bem com a reflexão que fiz em algumas newsletters passadas.
Lembrete: Ao comprar na Amazon com qualquer link dessa newsletter, recebo comissão de venda e você me ajuda a continuar meu trabalho!
Onde encontrar minhas histórias?
Atualmente, tudo que lancei como Isabelle Morais pode ser lido gratuitamente nos links abaixo:
Tratado Sobre Tempestades e Outros Fenômenos Extraordinários: Wattpad | Tapas | Arquivo da Noveletter
Livre: Revista Maçã do Amor
E, em breve, O Horror da Fazenda São Lázaro estará disponível digitalmente na maioria das lojas de ebook!
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