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#15 - Fevereiro: Sobre escrever e trabalhar e outras coisinhas

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Nessa newsletter, temos:

  • Algumas reflexões sobre não trabalhar SÓ com escrita;

  • Novidades da Outra;

  • No que tenho trabalhado;

  • Resumo do mês.

Sobre escrita e trabalho

Em algum momento dos últimos dois anos, percebi que tinha uma ideia muito nociva se espalhando pelos os autores iniciantes: a de que se você trabalha com outra coisa que não escrever livros, se você não se sustenta só da venda de suas obras, você é menos escritor. Quando percebi isso fiquei extremamente surpresa – quando comecei a publicar, em 2013, uma das coisas que eram mais repetidas e lembradas tanto aqui no Brasil quanto no exterior é que é apenas uma parcela minúscula de autores que conseguem viver só da venda dos próprios livros. 

A maioria das pessoas já começava ciente disso, de que provavelmente teria que ter outro trabalho enquanto escrevia e publicava suas histórias, mesmo que por algum período. A maioria dos autores que conheço são assim. Em 2014 saiu uma matéria na Folha com uma pesquisa informal sobre a fonte de renda dos escritores e, embora não seja uma amostra representativa, acho que ilustra bem o cenário - são poucas as pessoas cuja a maior parte da renda vem apenas da venda de livros. Essa coisa de escrever e trabalhar é comum desde o século XIX, por exemplo: Machado de Assis não vivia só de escrita, ele era funcionário público. Érico Veríssimo, Raquel de Queiroz, Clarice Lispector… todos os grandes Nomes da literatura que temos hoje trabalhavam com outra coisa, mesmo que de início (como foi o caso do Jorge Amado) e não sobreviviam apenas da venda dos próprios livros. Muitos deles trabalhavam no mercado editorial - Érico Veríssimo era editor da Editora Globo (que foi fundada no Rio Grande do Sul), Clarice Lispector era tradutora, o próprio Jorge Amado fez uma passagem no que seria o "marketing" da Globo. Muitos eram jornalistas e tinham uma ocupação relacionada a escrita, mas não de ficção e de seus próprios livros. Você olharia para eles e diria que eles não são escritores?

Eu não sei direito da onde foi que veio a ideia do contrário. Tenho essa teoria que com a facilidade de autopublicação trazida pela Amazon se tornou até comum ver autores, principalmente quem escreve no gênero do Romance, que se sustentam apenas com a venda dos próprios livros. Cada caso é um caso, mas eu posso garantir para vocês que a maioria dessas pessoas não começaram assim. É necessário ter certo volume, ter uma construção do público, etc, para chegar nesse nível de renda na Amazon que permite que você só faça isso. E ainda assim, o trabalho não é só escrever: você é o editorial inteiro, quando publica independente, então a divulgação, a capa, a sinopse, etc, tudo é você que faz.

E vira uma bola de neve: o ritmo de produção de Romance é muito rápido, porque os leitores lêem rápido, porque os livros são ou curtos, ou de leitura muito fluida e rápida. Então elas trabalham só com isso, porque elas escrevem de três a oito livros num ano para lançar. Junta escrever, com divulgação, com sei lá o quê, e vira uma ocupação em tempo integral. Se elas baixarem o ritmo, vão ter problema no fluxo de caixa e no dinheiro que entra, porque um novo lançamento levanta os títulos de catálogo e dá visibilidade, etc. Eu muitas vezes vejo o pessoal falando como se fosse algo muito fácil, como se escrever um erótico para ganhar dinheiro fosse trivial, mas não é. E não acontece do dia para a noite, precisa ter o mesmo esforço de divulgação, trabalho com o texto, que qualquer outro gênero precisa, além de um volume considerável de obras para chegar nesse nível.

Essa ideia idílica que está implícita em "viver da venda dos meus livros" de que a única coisa que você faz é *escrever* não faz parte da realidade de quem se publica sozinho.

Então assim: ainda é muito raro que um escritor viva só de sua escrita, e é mais raro ainda que DE CARA ele consiga isso. E, sim, é injusto. Porque quando você trabalha com outra ocupação, você tem muito menos tempo para escrever, então escreve menos e as chances de de fato conseguir viver só de escrita diminuem. Junta com obrigações de cuidar da família que infelizmente ainda acabam recaindo nas costas de muitas mulheres, com a vida social, com estudo para quem ainda está na universidade... Fica cada vez mais complicado.

É um sistema autorreforçante e, pior, um sistema excludente. O advento de pessoas da dita classe trabalhadora escrevendo é algo extremamente recente, porque até meados do século XX em grande parte apenas as pessoas da classe ociosa que conseguiam (pense: funcionários públicos, donos de grandes empresas, bancários, acadêmicos, membros do clero, membros da realeza, herdeiros, etc). Qualquer dia desses faço um minitexto quasi-acadêmico sobre esse aspecto, porque o centro da área que estudo é justamente um livro chamado Teoria da Classe Ociosa.

Acredito que é importante falar disso, lembrar esse detalhe. Lembrar que ninguém é um fracasso ou menos escritor porque tem outra profissão. Lembrar que está tudo bem você QUERER ter outra profissão além de ser escritor. E lembrar, principalmente, de que não existe caminho fácil nessa jornada e que é preciso ter muita resiliência.

Notícias da Outra

Não sei quem de vocês me segue no twitter da Outra, mas esse mês finalmente anunciamos uma notícia que eu estava guardando há quase um ano agora: a Trilogia Anômalos será relançada esse ano! 

Para quem não conhece, esses livros foram minhas primeiras obras lançadas tradicionalmente, com o pseudônimo de Bárbara Morais. Conta a história de Sybil Varuna, uma jovem que descobre que é uma Anômala e precisa encontrar o lugar dela num mundo que é completamente hostil à quem ela é. São obras voltadas para o público adolescente e o primeiro livro especificamente tem uma voz bem jovem, apesar dos temas pesados que trata - e os três são continuações diretas um do outro.

Aliás, esse é o projeto do outro pseudônimo que comentei em alguma newsletter anterior que acabou alterando meu planejamento inicial para Isabelle – não tenho condição de divulgar muitas obras, escrever coisas novas e trabalhar, então tive que me organizar para conseguir fazer tudo sem surtar e dar conta de tudo.

No que estou trabalhando

Eu estou de mudança desde... dezembro, e este foi o mês que FINALMENTE arrumei um apartamento e as coisas chegaram aqui, então foi completamente caótico. Entre desencaixotar coisas, montar móveis, organizar a casa e os trabalhos que eu tinha para esse mês, ficou complicado ter algum tempo livre em que eu não estava completamente exausta.

Apesar disso, consegui acertar o tom do início de Estudo..., a segunda novela de alquimistas. Eu já tinha uma parte da história escrita, mas não parecia estar certo. Esses personagens são notoriamente difíceis de lidar e sempre tenho que reescrever e testar muita coisa até acertar o tom, né? Mas agora parece que FOI. Para março meu objetivo é terminar pelo menos o primeiro rascunho dessa versão, mas vai ser o retorno às aulas presenciais e não tenho ideia de como vai ser.

Outra coisa que estou fazendo é me organizando para a partir do mês que vem trazer alguma coisinha diferente para vocês relacionadas ao que já lancei e ao que estou escrevendo! A do mês que vem já está pronta e eu estou completamente apaixonada, MAL posso esperar para vocês receberem (QUASE mandei nesse mês, mas estou tentando controlar meu impulso e fazer as coisas com planejamento e CALMA).

Tem algo específico que vocês gostariam de receber? Respondam a enquete abaixo se quiserem e/ou me respondam aqui com sugestões!

Que tipo de material extra você prefere?

Nesse último mês...

  • Lembra a TBR da última newsletter? Pois é, eu falhei MUITO com ela, num nível que só comecei a ler um dos livros da lista, mas não terminei nenhum. Porém, comecei a ouvir o audiobook de Sapphire Flames, de Illona Andrews, pelo scribd e é uma fantasia urbana divertidíssima, estou gostando demais (e avançando bem, porque escuto enquanto faço outras coisas). Eu já havia lido uma obra de Illona Andrews antes, o Magic Bites (li inclusive em português, na edição da finada Saída de Emergência), o primeiro da série da Kate Daniels, e não tinha curtido ao ponto de continuar lendo a série ou procurar outras coisas dos autores. Mas eu achei a capa de Sapphire Flames tão LEGAL que resolvi dar uma chance e estou curtindo.

[Ah, você pode ouvir audiobooks gratuitamente pelo Scribd no período de teste deles, e assinando pelo meu link, você ganha 60 dias de teste e eu ganho mais 30 gratuitos!]

  • A FLORENCE LANÇOU UMA MÚSICA NOVA:

E é isso, não teve mais nada de nota e não fiz mais nada além de Amor às Cegas - Japão e BBB e jogar Civilization VI.

Até mês que vem!

Onde encontrar minhas histórias?

Atualmente, tudo que lancei como Isabelle Morais pode ser lido gratuitamente nos links abaixo:

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