#11 - Cowboy Bebop, Nanowrimo e Outras Coisas

Você pode ler as edições publicadas na tinyletter aqui!

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Nessa newsletter, teremos:

  • Eu pensando muito novamente, dessa vez sobre Cowboy Bebop, nacionalidades e Autenticidade;

  • Uma reflexão sobre meu (parco) progresso no Nanowrimo;

  • O apanhado da Quinzena.

O nome dos subtítulos é a letra da abertura de Cowboy Bebop, Tank!. Recomendo muito o encerramento também, Real Folk Blues.

I think it's time to blow this scene

A primeira vez que vi Cowboy Bebop, eu devia ter uns 14-15 anos e não lembro muito além da sensação de gostar. Não é algo que eu cheguei a amar ou ficar obcecada como aconteceu com Rurouni Kenshin ou Sailor Moon ou até mesmo Naruto, mas gostei o suficiente para eu guardar uma certa afeição e ficar empolgada com o anuncio do Live Action e com quase tudo de atualização que está saindo.

Pois bem: no fim do mês passado o anime entrou na Netflix e comecei a reassistir lentamente. Eu lembro de alguns flashes enquanto assisto, mas a experiência tem sido muito mais divertida e marcante. Uma das primeiras coisas que pensei quando terminei o segundo ou terceiro episódio foi "da próxima vez que alguém me perguntar a diferença entre YA* e adulto, eu vou usar My Hero Academia e Cowboy Bebop como exemplo" (*aqui eu estou usando YA me referindo a histórias sobre adolescentes, não com a definição que o Brasil tá dando se ser sobre jovens adultos)(um YA nessa definição BR seria Honey and Clover).

Cowboy Bebop é uma história bem adulta, não no sentido de ter muita violência ou muito sexo (na minha régua não tem muito do primeiro e nada do segundo), mas sim porque é sobre questões que são bastante pertinentes à idade adulta, pelo ritmo que a história usa para contar, pelas ferramentas narrativas que se utiliza. A série é sobre arrependimentos, sobre luto, sobre apatia, sobre a impotência que sentimos quando percebemos que não dá para voltar. Não dá para fazer as coisas diferentes depois que elas já aconteceram, as coisas são como elas são. É até engraçado porque a maioria dos episódios segue um padrão bem específico (que segue uma estrutura narrativa do kishotenketsu): eles estão sem dinheiro, há um trabalho em questão. Eles vão atrás do procurado, existem algumas complicações que não seguem o que eles planejavam, dá tudo errado, gente que não devia morrer morre no processo, eles voltam para a nave e continuam sem dinheiro, assim como no começo (mas algumas raras vezes com o dinheiro!). Mas a cada episódio, você vai tendo um pouquinho mais de informações, mais detalhes sobre os personagens, e vai reconstruindo aos poucos o passado do Spike.

Além de tudo, Cowboy Bebop ainda é engraçado. Todos esses temas são muito bem costurados na narrativa, que para mim consegue ser muito bem equilibrada. É bem farofa, não acredite no povo que fica falando como se fosse algo SÉRIO. Ele consegue ser profundo, divertido e meio escrachado ao mesmo tempo - porque essas coisas não são opostas. Mas além de todas essas qualidades e peculiaridades narrativas que me atraem, a coisa que eu acho mais interessante é a estética da história.

Para quem não conhece, Cowboy Bebop é sobre um grupo de caçadores de recompensa espaciais. É isso, sem dar nenhum spoiler. Em um sistema solar que foi colonizado e habitado por humanos, eles navegam entre os planetas, asteróides, etc, tentando fazer seus trabalhos e capturar procurados para entregar para a polícia e ganhar dinheiro. E como a colonização não se deu por um país específico, e sim com a humanidade inteira, existem pessoas de todas as culturas, etnias, com todo tipo de costume, comendo todo tipo de comida. A maioria das cidades que aparecem tem zonas brasileiras, chinesas, russas, árabes, etc, que são extremamente bem caracterizadas (esse AMV aqui mostra bem o trabalho incrível que eles fizeram). Os personagens tem nome como Mao Yenrai, Rocco Bonaro (eu ri muito com esse, mas no fim do episódio eu tava chorando kkkkkk), Whitney Hagas Matsumoto, Abdul Hakim, e todo tipo de nome que remeta a diferentes nacionalidades que você imaginar. A história é muito eficiente em demonstrar esse caráter multicultural do mundo.

E ainda assim, é uma história inegavelmente japonesa. Mesmo com um dos protagonista se chama Spike Spiegel, e viaja a bordo da Bebop com seus companheiros Jet Black, Faye Valentine, Ein e Ed. Mesmo sem o Japão ou países como conhecemos sequer existirem nesse mundo em que planetas e asteróides são colonizados. Há algo na narrativa, nas escolhas temáticas, no tom da história que você sabe onde foi feito (se você tem referência o suficiente para conseguir identificar, é claro).

E pensando sobre isso, eu voltei para aquela discussão recorrente que tem no twitter (e na literatura brasileira como um todo, vamos lá) do que torna uma história autenticamente brasileira. Sempre tem aquele tweet tipo "Nossa, eu vi um livro com um protagonista chamado Edward, quem é que se chama Edward no Brasil?", ou alguém reclamando de sei lá o qual a pauta da vez foi eleita Não Brasileira O Suficiente, e falando que pra ser autenticamente brasileiro TEM QUE ter folclore indígena, ou necessariamente se passar no Brasil, ou sei lá o quê. O pessoal reclama (muitas vezes com razão, mas sem conseguir identificar o problema real!) das histórias passadas em outros países ou em mundos inspirados em outras culturas ou sei lá o quê como se não fosse o suficiente que o autor seja brasileiro.

Nesses dias de ressaca literária eu peguei um livro para ler de autora brasileira que se passava nos EUA porque seria melhor para o enredo (e acho que foi uma decisão acertada), mas tudo era extremamente brasileiro. Os costumes, os relacionamentos, as coisas que a protagonista fazia no cotidiano. Eu nem sei se foi proposital, mas eu gostei muito da forma como parece que ela nem tentou fazer parecer que é os EUA, e sim fazer ser algo próximo do leitor e da cultura dela enquanto escritora. Não tem como desligar a chavinha de brasileiro, só tem como se esforçar MUITO para ligar uma outra que você adquiriu ou por ter vivido aquela cultura (o que é mais fácil) ou por pesquisa.

Nosso processo enquanto criador é pegar todas as nossas referências, tudo o que a gente gosta e não gosta, tudo o que ouvimos, lemos, vemos, e bater num liquidificador e transformar em algo nosso. E quando ele vira nosso, ele tem o nosso temperinho, para remeter à newsletter anterior. No início da carreira é bem mais complicado fazer esse processo e as coisas saem com uns pedacinhos, mas ao longo do tempo você vai aprendendo a melhor maneira de fazer isso. Esse processo acontece esteja a gente ciente ou não e, tal qual um jogo, com o tempo sua experiência vai aumentando, você tem mais repertório e consegue trabalhar melhor com seus ingredientes.

É por isso que uma das dicas de escrita mais dadas é leia muito, leia de forma diversa, leia coisas de várias nacionalidades e traduzidas de vários idiomas (nesse sentido, a Iris Figueiredo tem feito um trabalho de curadoria de títulos muito bom no projeto de Leia o Mundo dela!). A gente sempre acaba se conhecendo melhor por comparação, por oposição, vendo o que é diferente e o que é igual no outro. Ficar confinado a um tipo só de narrativa ou de história deixa a gente limitado e é esse o problema que o pessoal chama de "falta de brasilidade". Dos dois lados, dos leitores e dos escritores. A falta é de conhecimento - para entender o que é que é "brasileiro", para compreender usos e referências fora dos EUA (porque agora até o Reino Unido tá em baixa? Pra quem viveu na era do From UK é até engraçado ver isso kkkk), para entender que nem tudo que você não conhece por exclusão vem dos EUA.

Nesse aspecto, eu acho Cowboy Bebop uma aula incrível de como fazer essa mistura de culturas, bem ciente da própria essência, se utilizando das melhores ferramentas e melhores aspectos para contar uma boa história, que não precisa ser uma papagaiada nacionalista para ter a carinha de uma cultura.

Get everybody and the stuff together

Eu comecei o Nanowrimo com o único objetivo de terminar um texto e começar outro e, até agora, eu tô bem perto de terminar o primeiro e comecei o segundo, então podemos concluir que estou em 50% do meu objetivo mesmo que eu tenha escrito muito pouco!!!!

Novembro, num geral, é um mês muito complicado para mim e nesse ano está pior do que de costume. Estou com duas matérias do doutorado que são um pouco puxadas na leitura e bem densas em conteúdo; tenho a grande sorte de trabalhar com pessoas que me dão bons prazos para o trabalho, mas ainda assim, tenho dois deles no fim desse mês; duas revisões grandes de textos meus voltaram para eu poder aceitar/recusar/fazer últimas alterações; estou aos poucos empacotando minhas coisas, separando o que vou levar ou não e fechando os detalhes da mudança de cidade que vou fazer em duas etapas, a primeira em dezembro e a próxima em março. Além disso, também tem o trabalho com a Noveletter e outras coisas (como essa newsletter!).

Então estou num equilíbrio bem precário do meu tempo, planejando as atividades direitinho para não me atropelar com nada. Só que, nesse cenário, acaba que uma das coisas que ficam de lado é a escrita. Na primeira semana de Nano eu até consegui escrever todos os dias, mesmo que fosse só um pouquinho, mas na segunda semana eu vi que enquanto não me livrar de pelo menos 2 das milhares de coisas que estou fazendo, não vou conseguir escrever em paz ou na quantidade que eu gostaria.

E tá tudo bem. Eu não tenho prazos tão cedo e tenho minhas férias pela frente, que vão ser dedicadas a escrever um artigo e a escrever ficção, de forma paralela (essa é uma combinação que funciona muito bem pra mim). O que eu conseguir fazer esse mês já me adianta muito, mas também tenho que ser realista para aceitar as coisas que não posso mudar e tentar fazer o uso mais eficiente possível do meu tempo (para eu conseguir descansar sem culpa!!).

Enfim, eu estou tentando atualizar meu "progresso" no nano todos os dias justamente porque sinto que há uma grande romantização de que escritor trabalha SÓ com isso e que se você faz outras coisas é menos escritor e é uma forma de contribuir para destruir essa ideia (que nem sei da onde veio?? quando eu comecei, todo mundo sabia que raro era trabalhar só com isso). Tem vezes que você não tem cabeça pra nada depois de um dia de trabalho, faz parte! Não diminui o mérito de ninguém como escritor.

Também está sendo divertido porque eu sinto que as pessoas não acreditam em mim quando eu falo que escrevo devagar e tá sendo uma boa prova do que eu quero dizer quando falo isso, AHAHAH.

Ok. 3, 2, 1... Let's jam!

  • O primeiro capítulo do lançamento atual da Noveletter, Coração Mal-Assombrado, saiu semana passada e nesse sai o segundo! Se quiser acompanhar por email gratuitamente, assine a newsletter. Se quiser receber os capítulos antecipadamente, o lugar para ir é o catarse. Também está disponível no Wattpad e no Tapas, como todos os lançamentos da Noveletter!

  • Eu escondo bem, mas sou viciada em the sims e tô maluquinha com o kit novo de plantinhas. Eu sou veementemente contra todo o conceito de KIT em The Sims porque pra mim é só a EA querendo arrancar mais dinheiro da gente sem se esforçar, MAS INFELIZMENTE FUI TENTADA por esse kit, provavelmente próxima promoção que tiver me dou de presente.

  • Minha lojinha da Shopee está com 30% de desconto até o fim do mês porque QUERO ME LIVRAR DESSES LIVROS!! AS BIBLIOTECAS E SEBOS QUE FUI NÃO ACEITAM MAIS DOAÇÕES!!

  • Estou terminando de ler Sing me to sleep, do R.M. Virtues, que é um romance erótico com o demônio da paralisia do sono que é MUITO bom. O mundo é muito interessante e toda a dinâmica da Penelope e do Acheron é excelente? Ainda tem tipo um início de guerra entre anjos e demônios acontecendo no fundo, eu com certeza vou voltar pra ler os próximos da série (e ler mais coisas do R.M. Virtues!). Ah, o Acheron tem chifres e é muito habilidoso com o rabo dele.

  • O Stromae tinha lançado uma música nova no fim de outubro mas só fui ouvir esses dias porque gosto de degustar com cuidado e atenção. Ela é incrível e eu sempre termino o clipe com vontade de chorar. Eu acho o Stromae um dos melhores artistas contemporâneos e recomendo muito! Gosto muito do clipe de Tous les Mêmes, de ave cesaria e de Papaoutai (que acho que é a mais famosa dele!)(eu amo muito da estrofe "todo mundo sabe fazer bebê, mas ninguém sabe fazer papais").

Onde encontrar minhas histórias?

Atualmente, tudo que lancei como Isabelle Morais pode ser lido gratuitamente nos links abaixo:

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